No processo do Cristianismo amar é dispor de si para o outro, é um
exercício que está atrelado à imitação de Cristo, isto é, em nos
assemelharmos à toda sua capacidade de amar sem reservas. Esta imitação, nem
sempre é fácil, e só se torna possível à medida que caminhamos sinalizados pela
a humildade. Para nos fazer entender esse caminho, tomo emprestado o olhar de
um grande santo e doutor da Igreja, São Gregório, que sabiamente nos dizia que
a “humildade é uma descida rumo às alturas do Amor.” De
fato, é através do movimento destas duas virtudes que o Verbo se revela e
visita nossa humanidade, tornando-nos capazes de amar. Capacidade singular que
impulsiona o homem o tempo todo a contemplar o horizonte da alteridade no rosto
e no coração do seu próximo.
Daqui a alguns dias viveremos a mística do Tríduo Pascal, e ali
contemplaremos de perto o ápice da humildade de Jesus no alto do Calvário, Ele
que “sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi
obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2, 8). Antes de
segui-Lo por esse caminho redentor, receberemos d’Ele mais uma vez o fascinante
chamado: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei” –
(Jo 13, 34) – este é o caminho sugerido a nós por Jesus ao término do lava-
pés. “Dei-vos o exemplo, para que como eu vos fiz, também vos o
façais”. (ibid., 15). “Agir do mesmo jeito”, eis o nosso chamado.
Baseando-se não na força de uma ordem, mas em virtude da natureza e impulso do
Amor para o qual fomos gerados.
É interessante perceber a riqueza de significados revelada minutos antes
de deixar o mandamento do Amor, quando Jesus se inclina aos pés dos seus amigos
para lhes lavar os pés. Dentre tantos significados traduzidos naquele cenário,
o nosso olhar se prende à sua humildade. Todavia, não no aspecto do serviço, o
que seria pertinente refletirmos, mas, a humildade como sinal redentor do seu
Amor. Ao inclinar-se para lhes deixar limpos de toda a sujeira, o Bom mestre
dirige-se ao “húmus”, à terra que se achava nos pés daqueles a quem
tanto amava. Os latinos chamam esse gesto de “humilitas”, isto é,
humildade. Com efeito, a expressão “humilde” tem sua raiz no vocábulo latino – “húmiles”-
e a imagem de um servo inclinado à terra (húmus), amplia o seu significado. Ali
com a humildade que lhe é própria, Cristo ao descer não alcança tão somente os
pés daqueles homens, mas também os seus corações, elevando-os ao Seu Amor até o
fim!
Queridos irmãos, o exercício do Cristianismo é isso. É um cenário no
qual somos chamados o tempo inteiro a protagonizar em nossas relações uma
“disposição ao outro”, por meio da humildade e do Amor. Penso que dessa
forma a gente amplia o horizonte de sentido de nossos amores, amizades e
encontros... De igual maneira também o horizonte de significado da nossa,
vocação, missão e Igreja. Parece trocadilho, mas deste modo, acabamos realmente
“descendo às alturas” do coração do outro, tocando aquilo que ele tem de mais
belo e encantador: a capacidade de amar e ser amado.
Seu irmão
Jerônimo Lauricio