Nestes primeiros dias do ano, permitam lhes partilhar irmãos, o quanto
cada vez mais tenho me convencido que nossos gestos precisam estar o tempo
inteiro envolvidos no Amor Redentor de Jesus. Me explico: Redenção é aquela
bonita experiência que podemos fazer de sermos retirados de um lugar ou posição
inferior e sermos colocados num lugar e/ou posição nobres. A partir do
horizonte do Cristianismo, é como sermos levados da condição de “Adão” à
condição do “Cristo”, onde sua autoridade amorosa nos tira da miséria do pecado
e nos leva à Redenção.
E por que autoridade amorosa? Autoridade vem do latim – AUGERE
– e significa aumentar, elevar, fazer crescer. Diferentemente
do que sabemos, a autoridade verdadeira não reclama para si uma posição ou
estado de superioridade face ao outro. Ao contrário, quando enraizada no Amor,
ela revela em sua essência a certeza de que quem faz uso dela, para acreditar
em sua própria grandeza não precisa rebaixar o outro, mas de outro modo
elevá-lo, fazê-lo crescer…. É isso que a autoridade de Cristo faz com a nossa
condição humana. Nos retira do “solo adâmico”, lava nossos pés (Jo 13, 4-5), e
nos faz experimentar o seu Amor Redentor.
É interessante que esta autoridade de Jesus incomoda os fariseus e
escribas do seu tempo, pois, “com efeito, Ele ensinava como quem tinha
autoridade e não como eles, os escribas” (Mt 7, 28-29). É tão bonito
como Jesus olha para cada um dos que Ele encontra em seu caminho, lhes
devolvendo a condição de homem novo e de mulher nova, que foi subtraída pela
miséria do pecado. São tantas curas, tantos encontros, tantas devoluções… Jesus
quando viu por exemplo a Maria Madalena, Ele fez com que aquela mulher voltasse
a ver aquilo que ela era, não uma prostituta, mas uma filha de Deus criada por
Ele, e não aquilo que o pecado a tornou (Jo 8, 1-11).
Outros encontros amorosos são o de Jesus com Zaqueu (Lc 19, 1-9); a cura
do cego de Jericó (Lc 18, 35-43); a escolha dos Apóstolos (Mt 10, 1-8)… Bem, o
que não falta é ocasião e terreno para Jesus cultivar as sementes desta
autoridade que ama e salva. O tempo inteiro como discípulos a gente corre o
risco de não saber cultivar destas sementes, muito embora o Bom Mestre tenha
nos ensinado. A gente corre o risco até de oscilar no comportamento daqueles
fariseus que se dirigiam a Jesus perguntando-lhe: “Dize-nos com que
direito fazes essas coisas, ou quem te deu essa autoridade?” (Lc 20,
2). A propósito, diante desta pergunta, não é de estranhar que Jesus tenha se
recusado a lhes responder (Lc 20, 8). A grandeza destes gestos está velada no
Amor, e só quem ama é capaz de percebê-los e exercitá-los. Os fariseus
certamente tinham alguma dificuldade, porque se calçavam o tempo inteiro em uma
falsa autoridade enraizada no homem velho. E aqui permitam-me ir um pouquinho
mais na gênesis daquela pergunta: ao que parece, aqueles escribas agem assim
porque desprezam ou desconhecem o verdadeiro sentido de homem que
é recordado na autoridade amorosa de Jesus. E aqui penso que é interessante
saber que a palavra grega para homem é ANTHROPOS e vem de
ANATRAPEIN, significando pois, “reerguer alguma coisa” ,
trazê-la para cima. Curioso é que a Biologia e sua Lei da Evolução nos sugere
esta mesma explicação quando fala da gênesis do homem: caminhávamos, segundo
ela cabisbaixos, encurvados, e aos poucos nos tornamos eretos. (Bem, isso não
entra no mérito da nossa partilha... citei a título de curiosidade). De
qualquer modo, penso que este detalhe nos permite entender o que Jesus em sua
Autoridade nos faz quando nos encontramos encurvados pelo peso do pecado e de
toda miséria humana: o seu Amor nos faz homens e mulheres novos, reerguidos,
voltados para o alto!
Uma última palavra agora é sobre o ”direito” reclamado por aqueles
fariseus a Jesus. Ele é tão simples e redentor quanto a Autoridade. Veja bem: a
raiz da palavra direito é a mesma do verbo latino “REGERE” ,
isto é, conduzir, endireitar, reger… Quando nos encontramos com
Jesus, o seu Amor nos eleva e nos conduz por caminhos antes nunca percorridos.
E o bonito é que depois de elevados e conduzidos nossa missão é endireitar o
caminho de outros e também fazê-los crescer, para que se cumpra o desejo de
Jesus quando nos diz: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra.
Ide, pois, e ensinai a todas as nações;batiza-ias em nome do Pai, do Filho, e
do Espírito Santo. Ensina-os a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou
convosco todos os dias até fim” (Mt 28, 18-20). Assim sendo meus
queridos, queiramos ao longo deste novo ano caminhar sob à Autoridade do Amor,
para que através dela conduzamos e ergamos todos quantos o Senhor nos permitir
encontrar. Ah… não nos preocupemos como e o que faremos, só queiramos fazer!
Abramo-nos à Graça e o milagre da missão acontecerá. Em gestos simples como um
sorriso, uma palavra, um afeto, uma acolhida, uma oração, uma escuta, um
silêncio, ainda que pequenos, quando feitos amorosamente realizam GRANDES
coisas! Um Ano de Graça e Amor a todos!
Seu irmão,
Jerônimo Lauricio.
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